sexta-feira, 11 de julho de 2014

O "tiki-taka" teutónico por Pedro Marques Lopes

11/07/2014 - Brasão abençoado - Crónica de Pedro Marques Lopes

Pep Guardiola não é só de longe, o melhor treinador do mundo, é um treinador que vai deixar uma marca única no futebol

Como o futebol tem muito mais lógica do que o que para aí se apregoa, a Alemanha chegou à final do Mundial e domingo, caso Cristo não desça à Terra ou o deslumbramento com a vitória de terça-feira não afecte a equipa, levará o troféu para casa. Não parece que a triste Argentina e o apagadíssimo Messi possam, sequer, sonhar com o título. Aliás, pelo espectáculo de quarta-feira devia, com a Holanda, ser recambiada para casa por indecente e má figura.

Escrevi neste espaço, antes do Mundial começar, que não me lembrava duma superioridade tão grande duma seleção face às outras desde 1982 - opinião, aliás, partilhada por muita gente. A diferença é que o Brasil desse torneio não chegou sequer às meias-finais e a Alemanha prepara-se para encerrar a tournée brasileira com chave de ouro.

Ao contrário das outras equipas que chagaram às meias-finais, não precisou da sorte dos penalties para ultrapassar patamares, nem teve empurrõezinhos da arbitragem. Mas o mais relevante é o facto da seleção alemã ter apresentado um modelo de jogo ainda mais aperfeiçoado do que vinha a mostrar nos últimos anos. Bem sei que o facto da equipa se basear em dois clubes e de muitos dos jogadores terem estado juntos nas vitoriosas seleções jovens ajuda muito, mas podem-se ver doses abundantes duns pozinhos de perlimpimpim que transformam uma equipa, que já era fisicamente sólida, compacta, com espírito de grupo e grande controle emocional, em algo de mais especial. Há ali um carinho no tratamento da bola, um tricô no meio-campo, uma geometria nas transições ofensivas, uma suavidade nas movimentações que não era comum no futebol alemão. Um tiki-taka teutónico.

Pois é, Guardiola não ajudou só a construir uma das mais fabulosas equipas de futebol da história, o Barcelona, não está só a montar um dominador do futebol europeu, o Bayern, ajudou, e muito, esta seleção alemã a ser uma extraordinária máquina de jogar futebol. Pode ser por acaso - para quem acredita em acasos -, pode ser inconsciente, pode ser por muitos dos jogadores da seleção jogarem no Bayern, seja como for o futebol de Guardiola está bem presente na alma do jogo dos alemães.

Os profetas Xavi e Iniesta estão a caminho da reforma, mas outros se estão a levantar. Que enganados estão os que pensavam que o futebol de Guardiola tinha acabado com o fim do Barcelona e desta seleção espanhola. O futebol dele está aí, bem vivo, a seleção alemã é prova disso.

Pep Guardiola não é só, de longe, o melhor treinador do mundo, é um treinador que vai deixar uma marca única no futebol.

dragaoatento - Uma opinião controversa esta a de Pedro Marques Lopes. Em que lugar (nível) ficaria então José Mourinho?

Uma fraude chamada Scolari - (subscrevemos na integra)

Nunca se tinha visto e nunca mais se volta a ver uma coisa como aquela a que pudemos assistir na última terça-feira.
Ver uma equipa no topo da sua forma, bem orientada e bem preparada contra uma tropa fandanga, dirigida por uma espécie de pastor de seita evangélica de vão de escada, numa meia-final dum Mundial não volta a acontecer.
Claro que é um jogo para contar aos netos, claro que a exibição da Alemanha foi sublime, claro que o Maracanazo foi um pequeno revés comparado com o massacre de Belo Horizonte, mas a verdade é que toda a gente estava à espera duma derrota pesada do Brasil.
Aliás, a chegada do Brasil às meias-finais foi um acontecimento quase tão extraordinário como a mega-goleada que encaixou. Empurrões subtis da arbitragem na primeira fase - o jogo com a Croácia foi uma vergonha e o do México um bambúrrio - , um milagre contra o Chile e uma meia hora razoável contra a Colômbia - o primeiro livre que David Luiz marcou ou marcará daquele sítio. O Brasil foi sempre uma equipa sem o mínimo fio de jogo, sem o mínimo de organização, sem qualquer tipo de estratégia, que parecia nunca ter feito um treino de conjunto - Almir Leite, jornalista do Estadão, garante que o escrete pura e simplesmente não treinava. As incursões de David Luiz e as brincadeiras de Marcelo só não davam para rir porque eram excessivamente patéticas e o plano de jogo fazia lembrar o de Paulo Bento: ninguém sabia o que fazer.

O plano era muita reza, muito o povão connosco e o Neymar resolvia. Ora, apesar da reza/sorte ter resolvido muito jogo ao Scolari, o povo ainda engolir as patranhas desse vendedor da banha da cobra e o Neymar ser um grande jogador, não é possível ganhar consistentemente com base nesse plano. Havia um excelente grupo de jogadores - ao contrário do que se diz o Brazil tinha, a par com a Argentina e a Alemanha, o melhor conjunto de jogadores do torneio -, o que não havia era Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo ou Roberto Carlos como em 2002, ou não havia a equipa base do FC Porto, que tinha ganho a Liga dos Campeões, reforçada com Figo, Rui Costa e Cristiano Ronaldo em 2004. Escuso de referir os resultados com a poderosíssima Grécia nas Antas e na Luz.
De facto, pode-se enganar muita gente durante muito tempo, Scolari é a prova disso.

Festas em Lisboa

Ainda é cedo para discorrer sobre o plantel do FC Porto para a próxima época. Estou firmemente convencido que está a ser construído duma forma que me faz crer numa época normal, ou seja, vitoriosa.

Felizmente, os jogadores do FC Porto não desaparecem do clube, não fazem exames médicos noutros clubes sem autorização, não são vendidos e depois apresentam-se no clube que os vendeu, jogadores titulares de equipas finalistas do Mundial não são dados de presente a emblemas russos e o nosso plantel não parece uma tropa em debandada geral. Para os lados do Olival, também não têm sido descarregados camiões de Taliscas, Victores Andrades, Benitos, Fariñas, Frissenbichleres ou Dawiddowiczes. Pois, até parece que o Corinthians Alagoano mudou de cidade. Uí, se todos estes fenómenos do Entroncamento acontecessem no FC Porto não havia Brasil-Alemanha que fizesse primeiras páginas de jornais.

Já do outro lado da segunda circular, o Sporting depois de ter corrido com vários elementos que suportavam a sua Academia, indiciando que está a desistir dum filão que gerou tantos jogadores campeões noutras equipas - que não nos verde brancos-, resolveu apostar em vedetas internacionais de renome. Destacam-se Tanaka, jogador de 26 anos que nunca conseguiu ser internacional pelo Japão, Oriol do Kansas City e Gauld, o Messi da Escócia. Ramy Rabia, compatriota de Chikabala, parece também estar a caminho.
De facto, não é preciso Academia para nada quando se podem ir buscar vedetas deste calibre.
O defeso ainda vai no adro, mas a coisa promete.

dragaoatento - será que eles estão a pensar como o outro que disse: não é preciso ter craques, o que é preciso é ter os homens certos nos lugares chave?!

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