quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Liga ZON FC Porto 3 Nacional da Madeira 0

Podem chamar-lhe ópera, se quiserem, na certeza de que foi um espectáculo. Três golos fantásticos, um deles de nota artística elevada, geraram a ovação da plateia numa noite de génio e brilho intenso, que ampliou a vantagem do líder para 11 pontos. Mas houve mais para aplaudir. Do calcanhar ao chapéu, o recital de jogo ofensivo foi um verdadeiro luxo, a que até o Nacional pôde assistir.
Hulk, que fora rotulado e diminuído à condição de jogador com maior número de perdas de bola, a meio de uma campanha absurda com o objectivo desesperado de justificar uma punição igualmente disparatada, perdia a bola pela 18.ª vez na baliza do adversário. Para variar, perdeu-a de cabeça, depois de u
m cruzamento com rigor milimétrico de Belluschi.
Mas havia mais bolas para Hulk perder. Como no segundo golo, que resultou de um remate cruzado e demasiado forte para a bola poder continuar colada ao seu pé esquerdo. O problema é que a violência com que se libertou dela também não permitiu defesa a Braccali. Mera casualidade.
E porque Hulk é igualmente conhecido por perder a bola de todas as maneiras e feitios, fê-lo também de calcanhar, assistindo James, antes de o colombiano fazer a bola passar por cima de Bracalli, no desenho de uma linha curta e redonda, ao melhor estilo de um chapéu de coco, cujo esboço só terminou com o balançar das redes do Nacional. Não foi ópera, é certo, mas o momento revelou génio e destreza de sobra para ser elevado à escala de obra de arte.
Hulk, que não jogara sozinho, terminaria o encontro intimamente ligado a todos os golos e à génese de mais uns quantos, apontando os dois primeiros e servindo o terceiro, o que, convenhamos, é muita perda de bola para um homem só. Mas não sozinho. Também por isso e, sobretudo, por uma questão de coerência e vergonha, não vale agora falar em Hulkodependência, exercício arriscado, que, mais do que o malabarismo, denuncia uma tremenda falta de originalidade, depois de teses semelhantes ensaiadas sobre Anderson e Deco, só para lembrar os exemplos mais recentes.
No FC Porto, falar de dependência é alargar o tema a muitos outros intérpretes. Como Moutinho, Belluschi, Fernando, James, Falcao ou Helton. É falar de André Villas-Boas. Hulk é mais um, ultra-brilhante, a quem já
 nem se pode associar a menor suspeita de dificuldades de concentração e estabilidade emocional. Depois do primeiro golo, quem pode assumir, sem a menor sombra de dúvida, que o homem não tem cabeça? Dando-lhe novamente bom uso, provocaria ainda o estrondo na trave da baliza de Bracalli, já na segunda parte.


FICHA DE JOGO Liga 2010/11, 20.ª jornada - 26 de Janeiro de 2011
Estádio do Dragão, no Porto - Assistência: 23.212 espectadores
Árbitro: Paulo Baptista (Portalegre)
Assistentes: Luís Tavares e José Braga
4.º Árbitro: Hugo Pacheco
FC PORTO: Helton «cap.»; Sapunaru, Rolando, Maicon e Rafa; Fernando, Belluschi e João Moutinho; Varela, Hulk e James
Substituições: James por Rodríguez (69m), Varela por Walter (77m) e Belluschi por Guarín (84m)
Não utilizados: Beto, Fucile, Rúben Micael e Otamendi
Treinador: André Villas-BoasNACIONAL: Bracalli; Claudemir, Felipe Lopes, Danielson e Tomasevic; Bruno Amaro e Luís Alberto, Mateus, Mihelic e Diego Barcellos; Anselmo
Substituições: Mateus por João Aurélio (55m), Mihelic por Todorovic (61m) e Diego Barcelos por Juninho (61m)
Não utilizados: Elisson, Patacas, Márcio Madeira e Nuno
Treinador: Pedrag Jokanovic
Ao intervalo: 3-0
Marcadores: Hulk (3m e 33m) e James (45m)
Disciplina: cartão amarelo a James (57m), Juninho (81m), Belluschi (81m) e Luís Alberto (90+3m)

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