Extracto do artigo do MST – Lisboa
Na quinta-feira,
ao almoço, tendo como única fonte os jornais desportivos da Capital, dei os
parabéns a um amigo benfiquista e acrescentei: “Parece que, ainda por cima,
perdemos mal, perdemos à Benfica!”. Mas, ao fim do dia, tudo tinha mudado: só
nos haviam contado uma parte da verdade, a verdade que lhes é conveniente.
Meus caros
amigos: dêem as voltas ao texto que quiserem, as imagens que vimos não são como
as do túnel da Luz, onde só os juizes do Benfica conseguiram enxergar graves
agressões. Estas são claras e nítidas e não têm duas interpretações: Mal o
árbitro acabou o jogo (basquetebol), os jogadores do Benfica juntaram-se no
centro a festejar com o seu treinador – o que era mais que legítimo. Mas,
entretanto, o roupeiro do Benfica atirava uma toalha aos adeptos do Porto (e
não era uma camisola autografada nem um cumprimento) e o treinador do Benfica
(Carlos Lisboa) fazia, várias vezes, um gesto que, não sendo motivado por uma
súbita comichão na zona dos fundilhos das calças, só podia significar aquilo
que todos percebemos: “Vão levar no cu”. A frio, cinco dias depois, digo que,
em cinquenta anos a ver desporto e transmissões televisivas no mundo inteiro,
nunca tinha visto coisa tão rasca, tão ordinária, tão reles, vinda (protagonizada
por)dum treinador. Se fosse na NBA, Carlos Lisboa acabava já aqui a sua curta
carreira de treinador. Aliás, e para quem acha que graves foram os incidentes
causados pelos adeptos portistas, digo-vos que foi uma sorte que o público dum
pavilhão onde os espectadores estão praticamente em cima do terreno de jogo
tenha reagido tão brandamente a provocações daquelas. Dizem que houve cadeiras
pelo ar, mas eu não as vi – pelo menos enquanto a equipa do Benfica ali estava.
E li, sim, o capitão do Benfica dizer que o que tinha sido arremessado foram “moedas
e garrafas de plástico” e que nunca se apercebeu que alguém tivesse tentado
forçar a entrada na cabina do Benfica.
Depois, entrou
em cena a polícia de choque, mas eu também não vi as imagens. Li comentários a
dizer muito mal de Pinto da Costa, por estar de dedo em riste para os polícias,
e ouvi o presidente do Benfica apoiar implicitamente a actuação da polícia,
enquanto a Direcção do FC Porto falava em agressões gratuítas sobre
espectadores indefesos, incluindo crianças.Não sei quem fala verdade, mas a
experiência histórica diz-me que se há coisa que não mudou com a democracia foi
a irresistível apetência da polícia de choque para carregar à bastonada sobre
quem não a ameaça – como vários exemplos recentes o testemunham e que, quando
atingiram jornalistas, muito indignou a respectiva classe.
E há outra coisa
que sei: se um presidente dum clube acha que está a assistir a agressões
gratuítas e desnecessárias da polícia sobre os adeptos do seu clube,
compete-lhe fazer o que fez Pinto da Costa e a sua Direcção: saltar lá para
dentro e tentar parar com a acção policial. Ou preferem, jogos sem espectadores
e só com polícias?
E Benfica –
Nesse mesmo dia à noite, assisti, estarrecido, a um depoimento escrito(?) e
lido pelo presidente do Benfica – já depois de serem conhecidas as
esclarecedoras imagens do comportamento da Carlos Lisboa no Dragão-Caixa e sem
que nenhum ataque ao seu clube tivesse vindo da parte do FC Porto. Quero apenas
dizer que jamais, também, tinha escutado uma tamanha declaração de injúrias,
insultos e incitamento público ao ódio por parte dum dirigente desportivo. E é
sintomático que, até hoje, não tenha lido um único comentário sobre isso na imprensa desportiva da capital.
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