quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Dissecar o clássico da Taça de Portugal

Algumas ideias que considero lógicas e pertinentes acerca das tácticas adoptadas pelos dois Misters no jogo do Dragão que o Benfica ganhou por 2 a 0.

Os benfiquistas foram eficazes, souberam não só aproveitar as facilidades que lhe foram concedidas pelo sector defensivo da equipa azul e branca, como geriram a vantagem acertadamente. Mas é difícil definir se foi o Benfica que ganhou ou o FC Porto que perdeu, pois para além da participação directa nos golos do adversário, os azuis e brancos apenas conseguiram dois lances passíveis de golo durante os 90 minutos, mesmo tendo jogado contra dez durante meia hora, por expulsão de Coentrão.

Os ecos que chegavam da Luz nos últimos dias apontavam para a utilização, por parte do Benfica, dum duplo pivô defensivo. Entendia-se a ideia pela necessidade de travar o duo dinâmico do FC Porto - Belluschi e Moutinho -, mas Jorge Jesus, que fez dessa a sua ideia-mestra, surprendeu ao colocar César Peixoto e não Airton ao lado de Javi García. Com a opção pelo esquerdino, ganhou qualidade de passe e começou aí a colocar areia na engrenagem de um FC Porto que, à primeira contrariedade, começou a fazer tudo ao contrário. Os mind games não correram de feição a André Villas-Boas e a opção estratégica também não.
Dispensar o Walter e não ter um ponta-de-lança no banco passou de opção discutível no início a péssima, quando o FC Porto ficou a jogar contra dez e como possibilidade de desequilíbrio atacante o treinador meteu Guarín, um número 8 que pode ser 6, talvez 10, mas nunca 9. Mas esse não foi o único problema portista, cuja defesa tremeu sempre que o Benfica pressionou alto e a equipa da Luz alternou a pressão alta com pressão média, de modo a ter espaço para ensaiar o contra-ataque. Nem precisou muito dessa arma, porque Maicon ofereceu o primeiro golo a Coentrão e Fernando o segundo a Javi García, pese o mérito da intromissão do primeiro entre o central e o guarda-redes e a qualidade do remate do espanhol.
Com o meio-campo manietado por obra táctica de Jesus, o FC Porto insistiu no jogo directo. Meter a bola nas costas dos centrais para explorar a velocidade de Hulk pode ser uma solução, principalmente contra centrais lentos como são os do Benfica - se calhar quaisquer outros quando o opositor é Hulk -, mas fazê-lo pelo ar redundou num disparate, pois Luisão controlou o jogo aéreo e Hulk, mesmo pisando os terrenos do ponta-de-lança não funciona como referência de área (até porque não foi assistido com precisão e com a bola rente à relva). Daí que o FC Porto estivesse dependente de Varela para construir lances de perigo, mas com o problema acrescido de ser só ele, já que James Rodriguez (ainda verde para clássicos do género), para além de ter falhado um golo de baliza aberta, esteve em sub-rendimento e Sereno, adaptado a lateral-esquerdo, nunca poderá ser uma opção de desequilíbrio pela ala. Sem transportadores de jogo nem os passes de risco - e de rotura - que costumam alimentar os homens do ataque ( a táctica da posse de bola funciona quando se dispõe de executantes de grande qualidade técnica como no caso do Barça), a solução teria de passar pela insistência nas alas, mas o FC Porto só tinha Varela. E para quê cruzar pelo ar, como se houvesse Falcao quando ele não está?!
Jogando com agressividade, sem correr riscos nem deixar de intimidar o adversário - Saviola é terrível quando aparece nos espaços a jogar dois contra um -, o Benfica começou cedo a gerir a vantagem, tendo sido capaz de não se alterar quando Coentrão viu o segundo amarelo e obrigou César Peixoto a derivar para a esquerda, mesmo necessitando do apoio de Gaitán, que acabou o jogo de gatas. De resto, à desvantagem numérica respondeu com a troca de Saviola por Aimar, o que equivalia a dizer que a ideia-base de emperrar o miolo portista continuava válida.
André Villas-Boas também jogou as cartas que tinha. Ao intervalo James cedeu o lugar a Cristian Rodríguez, mais móvel, a alternar a ala com idas à área para libertar Hulk, mas também ele incapaz de causar problemas sérios à defesa benfiquista por ainda estar a caminho da boa forma. Guarín como solução de ataque foi um fracasso e Rúben Micael entrou numa fase desesperada, de modo que de nada lhe valeu querer pousar a bola e jogar à Porto. Dando a ideia que entrou tarde.
Se esta era também uma luta à parte entre Villas-Boas e JJ... desta vez a vantagem clara foi para a veterania. 
Acrescento que à equipa dos Dragões , alem da serenidade na defesa, sempre crucial num jogo de futebol, faltou coesão, entrosamento, jogadas de envolvimento ao primeiro toque, enfim, qualidade técnica também...!

2 comentários:

Dragaoatento disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Dragaoatento disse...

Villas-Boas: "Nós somos uma equipa de posse de bola, gostamos de ter a bola, é esse o nosso estilo, o nosso carácter, e temos orgulho nele.

Este é um sistema eficaz quando se dispõe de executantes de excelente qualidade técnica, do nível dos jogadores do Barça!
Se não se tem este tipo de jogadores, então é melhor procurar outra solução.
Por exemplo: o JJ com dois trincos J Garcia e César Peixoto, mais o fecho das alas por médios-ala e defesas laterais, anulou o futebol ofensivo do FC Porto...!