Assemelhando-se a uma centrifugadora, o Poder Central instalado no Terreiro do Paço e zonas subjacentes ao Tejo gera um fenómeno cíclico no Norte: a choraminguice mascarada de (pseudo) revolta. A perda de influência da Região Norte e concomitante desagregação da coesão nacional é bem evidenciada por todos os indicadores económicos, sociais ou culturais das últimas décadas. Dá-se o caso, no entanto, de o Norte não caprichar num posicionamento reivindicativo suscetível de pôr em sentido os decisores adeptos da macrocefalia.
Os dados acabam, aliás, por serem viciados....
A Região Norte, mais do que marcar uma posição de influência decisória tendo por base méritos próprios, a todos os níveis, tem-se posicionado como um pedinte à espera da distribuição do chamado bodo aos pobres.
Sim, há injustiças notórias a justificarem uma reação enérgica - incluindo manifestações de desagrado pelo destrato. Mas convém não alijar responsabilidades próprias e desconfiar da benignidade de alguns protagonistas ocasionalmente abespinhados.
O Norte é vítima de apetites centralistas mas as insuficiências próprias facilitam o abocanhar. E a inexistência de quem lhe dê dimensão e peso político nacional agrava o problema.
A última década é paradigmática. Os figurantes político-partidários do Norte têm andado mais preocupados em bater a pala aos decisores do poder da capital, aspirando a dele fazerem parte, do que em vincarem um estatuto acima do reservado aos políticos anões. E o fechamento, tipo concha, é mais um atavismo do que virtude.
A Região Norte precisa de dar um murro na mesa, mas o impacto só será garantido se protagonizado por alguém cuja dimensão não se limite a fronteiras regionais e se disponha a não ter preocupações de agradar à capital e aos mordomos dos privilégios, sejam eles traduzidos em fundos comunitários ou, de modo mais banal, pelo cirandar por restaurantes e discotecas alimentadoras de uma socialite postiça mas bem parecida.
Uma nova metodologia a norte está, de alguma forma, facilitada pela existência de um exemplo a copiar: o do F.C. do Porto. Exagero? Não! Graças à visão estratégica de um dirigente, Pinto da Costa, o F.C. do Porto investiu na competência própria, quebrou a cerviz ao poder instalado há décadas e deu-lhe xeque-mate! Teve arte e engenho para se tornar numa marca internacional a partir da região. Pinto da Costa recusou andar de chapéu na mão a pedir batatinhas à postura dos defensores do Terreiro do Paço e zonas satélites - e obteve resultados.
Aí está: também na dimensão política o Norte precisa de um Pinto da Costa! Até lá continuará triste, enxovalhado e agradecido nas esmolas. Entregue, sobretudo a partir da cidade do Porto, a quem tem trocado a afirmação da região pela preocupação de agradar às gentes da capital.
Fernando Santos - in J.de Noticias
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