terça-feira, 1 de abril de 2014

Miguel Sousa Tavares abre o livro

Porque uma voz coerente e objectiva na defesa da ética desportiva e dos valores azuis e brancos, eis aqui o:
Extracto da crónica do Miguel Sousa Tavares

Reconhecer que o FCP foi prejudicado em todos os jogos que disputou fora com os rivais próximos é proibido pelo código deontológico do jornalismo?

1 - O FC Porto já jogou no terreno dos seus quatro adversários mais próximos na classificação, para cima e para baixo. Primeiro foi ao Estoril onde empatou 2-2, com um golo do Estoril em off-side e outro na conversão de um penalty resultante duma falta cometida fora da área. Depois foi à Luz, onde começou por beneficiar de um penalty não assinalado e transformado em canto - mas, como do canto resultou golo do Benfica, não beneficiou nada com isso (mais lhe valia que tivesse sido assinalado o penalty). Para compensar esse erro ou não, Soares Dias cometeu a seguir três erros decisivos contra o FC Porto: cortou uma jogada de golo iminente, com Jackson a entrar na área isolado, para assinalar uma falta contra o Benfica ocorrida quarenta metros e seis segundos antes; e fez vista grossa a dois penalties contra os encarnados, um dos quais ditaria segundo amarelo a um defesa benfiquista. A terceira saída ao terreno de um adversário próximo deu-se em Alvalade, onde Pedro Proença transformou uma vitória portista, mais do que merecida, numa derrota, perdoando um penalty descarado e a expulsão de Cedric e validando o único golo do Sporting, com assistência em off-side. Anteontem, finalmente, fechou-se o ciclo na Choupana: primeiro golo do Nacional também com assistência em off-side e golo limpo anulado a Jackson. Isto são factos. E pontos. Pontos roubados como diria Bruno de Carvalho: entre 9 a 11 e, consequentemente, menos 3 para o Sporting e menos 2 a 3 para o Benfica. Pelas contas à moda de Alvalade, estaríamos agora 6 pontos à frente do Sporting e a 1 ou 2, do Benfica, a disputar o título até final.

2 - Já disse que reconheço mérito a Bruno de Carvalho em várias coisas, como a mobilização clubista, a denúncia dos negócios obscuros dos agentes e fundos de jogadores, as medidas de austeridade aplicadas a um clube à beira da ruina (no fundo, o mesmo que faz o governo, mas aí já sem a compreensão generalizada). Quanto à "restruturação financeira" , não sei o que ele terá conseguido, e como, dos bancos credores, mas sei uma coisa: não desaparecem 130 milhões da dívida sem pagar um euro nem obter perdão algum, como ele jura.
No resto, não lhe reconheço mérito que não o habitual: Começou por abrir guerra contra o FC Porto, o que fazem muitos presidentes dos rivais de Lisboa assim que entram em funções, pois sabem que essa é, desde logo, uma medida popular, tamanha é a frustração com as décadas de humilhação desportiva inflingida pelos dragões. Tornou seus aliados o presidente e a direcção da Liga de Clubes, completamente desacreditados e desprestigiados. E adoptou uma estratégia de intimidação de tudo e de todos que lhe permitiu meter ao bolso o Conselho de Disciplina e a Comissão de Arbitragem. Enfim, mais e melhor do que tudo: meteu ao bolso a imprensa desportiva - esmagadoramente lisboeta e adepta dos dois grandes da capital - que adora ouvir ataques e insultos ao FC Porto e que lhe estende interminavelmente os microfones, sem qualquer veleidade de isenção, independência, espírito crítico ou até mesmo oportunidade jornalística. Esses são os seus grandes trunfos.
Não é o futebol que a equipa joga, pois que esse, apesar do excelente trabalho de Leonardo Jardim a fazer omeletas sem ovos, por si só jamais chegaria para estar no segundo lugar. Quando, a propósito do jogo com o Guimarães, A Bola titulou Fera indomável, o próprio Jardim reconheceu que tinham jogado "abaixo da qualidade média" (e, com grande coragem e honestidade, abandonou o presidente nas suas afirmações de que merecia ir à frente do campeonato e de que, para o ano, com a mesma equipa, espera ser campeão).
De facto, nos seis últimos jogos para o campeonato, nos quais registou cinco vitórias e um empate, arrancando decisivamente para o segundo lugar, em nenhum desses jogos:
 

a) o Sporting jogou bem
b) foi superior ao adversário
c) mereceu ganhar o jogo


Umas vezes teve sorte, outras teve ajudas determinantes dos árbitros. Contra o Guimarães, se Slimani tem visto o segundo amarelo, como devia, conseguiria o Sporting manter a vitória?

 3 - Inversamente, pode o FC Porto ter a melhor direcção, o melhor treinador, o melhor plantel, a melhor organização, que há uma coisa, uma poderosíssima arma, que nunca terá: a imparcialidade da imprensa desportiva. Culpas próprias também, pois que ali só se conhecem dois tipos de jornalistas: os inimigos e os vassalos (lambe botas:digo eu).
(Em breve, me ocuparei do assunto, a propósito do impensável processo que a SAD do FC Porto me instaurou, reclamando um milhão de euros de indemnização por "danos morais").
Esta dualidade de critérios da imprensa desportiva é dupla e escandalosamente evidente no assunto das peixeiradas públicas. Primeiro, é chocante porque a imprensa, que tanto gosta delas (ajudam às audiências), depois venha, hipocritamente, lamentar o "clima que se vive no futebol português" - incentivado e acarinhado pela própria imprensa. E, depois, é chocante que distribua as culpas por igual, fingindo não saber quem, desde o início da época e por estratégia assumida, mais não faz do que acirrar ânimos e ódios, distribuir provocações e ofensas, alimentar processos de intenção e intimidação.
Esta época, o FC Porto já jogou cinco vezes com os outros dois grandes e, em nenhuma dessas cinco ocasiões, alguém escutou uma palavra que fosse da parte do FC Porto que pudesse ser vista como susceptível de deteriorar o clima ou condicionar os árbitros ou o adversário. E comparem com o outro...

Tivemos um bom exemplo disso no jogo da Taça de quarta-feira passada - aliás, talvez o melhor jogo de uma época fraca em grandes jogos, envolvendo as duas melhores equipas portuguesas. De parte a parte, diga-se - e apesar da rivalidade extrema e das relações inexistentes entre os clubes envolvidos - não se escutou uma palvra de provocação prévia, a direcção do Benfica esteve em peso e calmamente no camarote presidencial do Dragão (sem terem sido separados por convidados, como o Sporting fez em Alvalade à direcção do FC Porto), não ocorreu o mais pequeno incidente entre adeptos e polícia, não apareceu nenhuma falange de camisas negras a aterrorizar o público à passagem, não houve qualquer caso ou reclamação sobre a arbitragem, nenhum incidente entre jogadores, e o jogo terminou com os atletas abraçados e os treinadores elogiando mutuamente o adversário. Afinal, é possível? Pois é, mas não jogava o Sporting, de Bruno de Carvalho. E o que me pergunto é porque razão a imprensa - que tanto gosta de ecoar as bocas e as provocações e tanto gosta de empolar o mínimo incidente - não extraiu daqui as consequências e a lição à vista, elogiando, o FC Porto, sobretudo, mas também o Benfica? Good news is no news? Ou elogiar o FC Porto, ou reconhecer que, de facto, foi prejudicado em todos os jogos fora com os seus rivais próximos é proibido pelo código deontológico do jornalismo desportivo?

4 - Derrota à parte, gostei muito da atitude de inconformismo da equipa na segunda parte do jogo da Choupana. Mesmo no estado de cansaço em que se advinha que estejam, os jogadores fizeram tudo para sair com a vitória - e só não saíram porque a sorte e mais qualquer coisa o impediu. Do que eu não gostei foi do meio-campo inicial, composto exclusivamente por jogadores do tipo passa para o lado e passa para trás, do descalabro do Abdoulaye e de ver a prestação do Licá comparada com a do Candeias - esse jogador que eu tanto elogiei aqui e que tanto lamentei que tivessem deixado sair a custo zero. Ele e mais outros, como o Atsu, ou o Iturbe - que, depois de regalar os adeptos do Verona, vai regalar o seu tesoureiro. E nós com o Licá e o Varela...

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