Sérgio Conceição pronunciou-se sobre diversos assuntos em entrevista ao JN
A primeira conferência de imprensa da temporada será apenas na próxima sexta-feira, mas Sérgio Conceição já esteve em discurso directo publicamente. Este domingo, foi a vez da revista do Jornal de Notícias publicar uma extensa entrevista ao treinador portista.No comando técnico dos Dragões há três épocas, Sérgio Conceição já conquistou dois campeonatos, uma Supertaça e uma Taça de Portugal. Para ele, “não há dúvidas” de que o FC Porto tem neste momento a hegemonia do futebol português. “Não sou eu que o digo. São os títulos conquistados nos últimos tempos, no passado recente. Também no confronto directo com os grandes rivais o FC Porto tem levado a melhor”, nota, avisando, contudo, que “o futebol é um recomeçar constante, tanto de um jogo para o outro, como depois dos títulos que se ganham”.
O homem que nasceu há 45 anos numa freguesia do concelho de Coimbra não esconde que é “um grandíssimo apaixonado pela Académica”, mas deixa claro que o portismo se entranhou nele desde os 16 anos quando se mudou para a Invicta, tendo para isso contribuído alguns títulos ganhos como júnior e sénior. Confessa que desenvolveu “um amor grande” ao FC Porto e “às pessoas da região”. Está “sem dúvida nenhuma” no clube que “queria treinar” quando começou a carreira como técnico, pelo que “ganhar títulos no FC Porto é extremamente gratificante”.
A relação com Jorge Nuno Pinto da Costa sempre foi também marcada por grande sintonia. “Olho para o nosso presidente como alguém que me conhece há muitos anos e como o presidente mais titulado do mundo. Alguém profissional, perspicaz, bom naquilo que faz, porque é verdade. É se calhar o melhor dirigente do mundo. Quando passamos tanto tempo com as pessoas, ganhamos afectos. Esse respeito, esse afecto, essa estima e essa amizade foram crescendo e sem dúvida nenhuma que há essa ligação muito especial entre mim e o presidente”, explica.
Com a edição 2020/21 do campeonato aí à porta, Sérgio Conceição observa que em Portugal se tem verificado uma aproximação qualitativa dos clubes com menores recursos aos clubes grandes. “Acho que a tendência é cada vez mais essas equipas poderem tirar pontos às equipas grandes. Não somos um país muito competitivo ao nível do mercado, por todas as razões e mais algumas”. Assim sendo, é preciso ter “criatividade” e “inteligência”, ou seja, “olhar para a lufada de ar fresco que é o talento que existe na formação”. “Talento têm, é preciso meter mais condimentos que façam com que o jogador esteja mais bem preparado quando chega a este nível”. E para jogar no FC Porto, salienta, não basta ter contrato, é preciso “ter espírito de sacrifício”, “ser ambicioso” e “muito focado, muito determinado”. Se assim não for, qualquer jogador “terá muito mais dificuldades em adaptar-se”.
A pandemia retirou os adeptos dos estádios e o treinador dos azuis e brancos tem noção de que é necessário “respeitar as regras”. No entanto, não se pode transformar o futebol no “exemplo máximo do rigor” e “as regras têm de ser regras para todos”. “Não me cabe a mim comentar, mas em estádios de 30 mil, 40 mil pessoas, talvez fosse possível ter uma percentagem dessa lotação. Era melhor para toda a gente. O futebol sem adeptos é como ter um baile sem música”, vinca.
A parte mais pessoal não deixou de estar presente nesta longa conversa. Sérgio Conceição revela que o temperamento que o caracteriza resulta da infância “difícil”. Perdeu os pais “muito cedo” e isso moldou-lhe “a vontade de triunfar”. “Desde pequenino que tive de lutar muito, fui homem muito mais cedo do que normalmente se é. Era eu, quando era júnior, que tinha algum dinheiro para sustentar a minha família. Vivo com uma parte negra dentro de mim, de essa felicidade nunca ser máxima pela falta que me fazem os meus Pais. No fundo, é isto, é sempre uma vontade grande de ganhar, de chegar ao topo, de lhes agradecer”, conta. Dos cinco filhos do treinador dos azuis e brancos, quatro são futebolistas e dois vestem de azul e branco. Rodrigo, ex-Benfica, juntou-se a Francisco e passou a vestir a camisola portista, o que permitiu a Sérgio Conceição ficar “mais contente”.
Enquanto homem, o timoneiro dos portistas não se considera muito diferente do que é como treinador. A principal característica é “ser genuíno”. “Não há muita diferença porque a essência, o que está cá dentro, vale para a vida como para o que sou como treinador”, sublinha. Aliás, é justamente “como uma pessoa frontal e genuína” que gostava de ser recordado. E ainda como “um profissional determinado, ambicioso, inconformado, que é rigoroso e que gosta muito de ganhar”.
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