Há muito que o espaço de comentário técnico em Portugal deixou de ser um exercício de rigor e independência para se tornar num palco enviesado, onde a análise se molda à cor da camisola.
Os recentes lances protagonizados por Kokçu, do Benfica, e Gonçalo Borges, do FC Porto, ilustram na perfeição esta realidade profundamente enraizada. Ambos os lances têm semelhanças evidentes: disputa aérea, contacto imprudente com a zona da cabeça do adversário, ausência de intenção agressiva, mas com potencial de risco para a integridade física.
No entanto, os vereditos não podiam ser mais distintos e reveladores.
Duarte Gomes, no caso de Kokçu, fala em “negligência” sem intenção de magoar e considera o cartão amarelo uma decisão acertada. Já no caso de Gonçalo Borges, onde também não vê malícia, afirma que a abordagem foi perigosa e a expulsão, inevitável. Dois pesos, duas conclusões, uma só lógica: o critério depende do emblema.
Jorge Faustino mantém a linha: reconhece que Kokçu acerta com o pé na cara do adversário e classifica o gesto como negligente mas limita a sanção ao amarelo. No caso de Borges, descreve o contacto como grave e exige o vermelho. A objetividade dissolvida pela conveniência.
Marco Ferreira, por fim, vê “imprudência” e “perigo” na ação de Kokçu, mas não o suficiente para ir além do amarelo. Em Borges, a mesma ação torna-se “grosseira”, exigindo expulsão imediata.
A diferença? Cor da camisola.
O que este alinhamento nos mostra não é apenas incoerência,é um padrão sistemático de avaliação desigual. Não se trata de má interpretação. Trata-se de um critério flexível, adaptado ao protagonista em causa. Uma justiça seletiva, travestida de opinião técnica.
É precisamente esta tendência, mascarada de neutralidade, que mina a credibilidade do comentário desportivo e agrava a perceção de impunidade e favorecimento no futebol português.
Quando figuras como Duarte Gomes, Jorge Faustino e Marco Ferreira (e outros que tal) deixam de julgar os lances e passam a julgar os jogadores pelo clube que representam, deixam também de cumprir a função de informar. Passam a manipular.
E enquanto esta prática se mantiver enquanto a análise continuar a servir interesses e não a verdade dos factos o jogo será sempre desigual.
Não por culpa dos protagonistas em campo, mas por aqueles que, fora dele, decidem que um pontapé na cara nem sempre é vermelho.Depende de quem o dá. E, sobretudo, de quem o recebe.
por @JoeldeSousa1893 (surripiado da rede social X)

Sem comentários:
Enviar um comentário