segunda-feira, 7 de junho de 2010

A posição de trinco na equipa, Fernando e outro visto por Villas-Boas

Bem mais adepto da posse de bola do que Jesualdo Ferreira, Villas-Boas pretende um meio-campo mais dinâmico, de posições até certo ponto intermutáveis, que vá compensando as subidas de um com as descidas de outro, que se aproxime do ataque e saiba trocar a bola. Nada que, como se pode ler nas páginas seguintes, seja estranho aos próprios princípios do clube desde há mais de uma década.
Outra das convicções do treinador é que a alteração dos hábitos de treino será suficiente. Fernando joga exactamente como Jesualdo Ferreira lhe pedia que jogasse, em contenção, numa zona bem delimitada e sem passaporte para arriscar mais do que uns metros nas áreas proibidas - condições essenciais na função de cobertura, cem por cento posicional, que ocupava no modelo anterior.
Independentemente do que vier a suceder na fase larvar do novo Fernando, o trinco que o FC Porto contratar será um jogador dentro destes parâmetros.
Fernando chegou ao FC Porto aos 19 anos, já internacional sub-20 pelo Brasil, embora ainda na vigência de uma suspensão de um ano por agressão a um árbitro durante o apuramento para o Mundial do Canadá. Chegado de Vila Nova de Goiás directamente para a pré-temporada com Jesualdo, começou por jogar mais vezes a lateral-direito do que na sua posição de origem - na altura, colocada fora do alcance pela presença de Paulo Assunção - e seguiu depois, por empréstimo, para o Estrela da Amadora, onde facilmente blindou o lugar no onze. De regresso ao FC Porto, só depois de chumbada uma primeira experiência com Guarín pôde pegar no leme. Agora terá de aprender a pegar-lhe de outra maneira.
Extracto de José Manuel Ribeiro n'OJOGO 

PS - O ABC dos treinadores à Porto 

André Villas-Boas, Vítor Pereira e José Mário Rocha, três dos cinco elementos da nova equipa técnica dos dragões, foram todos, efectivamente, formados para ser treinadores à Porto. O grande responsável pelo conceito foi Ilídio Vale, antigo coordenador do futebol jovem dos dragões, e actual seleccionador nacional dos sub-19. Havia uma série de requisitos a respeitar, uma ideia de jogo comum e um modelo bem definido. O lema era "sem formar treinadores à Porto, não há jogadores à Porto". Na cerimónia de apresentação como sucessor de Jesualdo Ferreira, mais do que qualquer outra coisa, Villas-Boas destacou a importância de um corpo comum de ideias transversal a toda a equipa técnica. Ideias, na verdade, contemporâneas de Bobby Robson no FC Porto, no longínquo ano de 1994. Nessa altura, o departamento coordenado por Ilídio Vale estabeleceu os requisitos: os candidatos tinham de possuir bons conhecimentos de futebol, muita ambição, grande capacidade de comunicação e sobretudo paixão, bem como o conhecimento do estágio de desenvolvimento dos jovens e, claro, a obrigatoriedade de perfilharem a ideia de jogo defendida pelo clube. Uma regra importante do processo de formação do treinador à Porto era que nenhum podia ser técnico principal sem primeiro ter passado pela experiência de ser adjunto, para garantir plena identificação com o clube. Uma espécie de construção progressiva do conhecimento futebolístico. As excepções, na altura, foram João Pinto e Madjer, integrados directamente como treinadores principais, à semelhança de Pedro Emanuel esta época. Depois, no trabalho de campo, os treinadores obedeciam a um modelo de jogo comum (ver sete princípios à parte), sendo o mais importante a procura e a criação de um jogador agressivo e inteligente, um aspecto mais valorizado até do que a habilidade. A uniformização de métodos de trabalho na busca de um conceito de jogo semelhante a todas as faixas etárias era o grande objectivo. Para isso, havia um documento estipulando situações de treino que todos deviam colocar em prática. Villas-Boas que, ainda na fase embrionária do projecto, foi proposto ao departamento por Bobby Robson veio a calhar. Na altura, Ilídio Vale procurava justamente gente jovem para formar os tais treinadores à Porto. Sem critérios escritos ainda, o vizinho do treinador inglês não teve de passar por grandes testes e quando os candidatos começaram a ser avaliados foi-lhe dada igualdade de oportunidades. Quem o acompanhou na altura, destaca-lhe acima de tudo, o gosto pelo risco e pela experimentação.

Só eram aceites os mais comunicativos e com paixão pelo futebol

Como os responsáveis azuis e brancos entendiam que para formar jogadores à Porto seria preciso ter treinadores à Porto havia requisitos a cumprir para entrar na estrutura. Numa fase inicial era necessário que os aspirantes tivessem bons conhecimentos de futebol, naturalmente, mas que fossem mesmo apaixonados pelo jogo. Tinham de ser muito ambiciosos, ter uma enorme capacidade de comunicação e era fundamental conhecer o estágio de desenvolvimento dos jovens. Se a ideia de jogo dos candidatos fosse distinta da filosofia do clube eram logo colocados de parte. Havia reuniões semanais para garantir uma perfeita harmonia de ideias.
Jogadores inteligentes à frente dos habilidosos
A filosofia implementada na formação do FC Porto ao tempo em que Villas-Boas, Vítor Pereira e José Mário integravam o departamento - na altura coordenado por Ilídio Vale, actual seleccionador dos sub-19 - não descurava, naturalmente, a criatividade, mas preferia privilegiar outro aspecto: a inteligência dos atletas. Formar jogadores inteligentes para um futebol inteligente era o objectivo, a ponto de favorecer essa qualidade em detrimento do talento natural. Os jovens futebolistas eram encorajados a pensar fora das funções que tinham em campo e mesmo do sistema implantado na equipa. Era evitado a todo o custo que ficassem demasiado amarrados a um papel no onze ou crescessem incapazes de assumir as acções de um colega noutra posição, em qualquer momento do jogo. O investimento nesse padrão mental era muito elevado, aliás a defesa do princípio era uma das prioridades do departamento de formação, a par da agressividade, no bom sentido: outra característica essencial nos jogadores.
Popularidade já é evidente
No jogo dos juniores, que também foi seguido com atenção por Manuel Machado (treinador do Guimarães), Villas-Boas distribuiu autógrafos e tirou fotografias com adeptos portistas.

TOMAZ ANDRADE / CARLOS GOUVEIA n'OJOGO

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