terça-feira, 6 de março de 2012

Extracto do artigo de opinião do Miguel Sousa Tavares

Eis aqui um extracto do artigo de opinião do Miguel Sousa Tavares no qual ele expressa com grande acuidade, sagacidade  e objectividade, os incidentes do passado recente jogo na Luz...! (os sublinhados são da minha autoria)
…Até aos 20 minutos, só deu Porto e o jogo podia ter morrido aí, se Janko tivesse marcado um golo fácil, depois de isolado por Lucho na cara de Artur, ou se Álvaro Pereira não tivesse também desperdiçado a recarga. Com um pouco mais de fé e de insistência, o Porto tinha arrumado ali um Benfica em que a defesa disparatava em pânico, o meio-campo não segurava a bola e o ataque não existia. Depois, um alívio defensivo de costas de Maxi Pereira resultou num balão que sobrevoou meio-campo e foi encontrar Cardozo isolado na área, em jogo por centímetros: Helton salvou. Subitamente, o Benfica começou a ganhar cartões amarelos e livres próximos da área – o que toda a gente sabe que é a sua mais eficaz arma ofensiva. Por culpa própria, o FC Porto perdeu o controlo do jogo e, sem que o Benfica fizesse muito por isso, deixou-se empatar, num golo de sorte à saída de uma bola parada, com vários ressaltos a encontrar outra vez Cardozo isolado e milimetricamente em jogo. Aimar teve também uma boa oportunidade (a única em jogada de bola corrida do Benfica), mas que não chegou a sê-lo porque ele não sabe cabecear. E Moutinho arrancou tinta à trave, na cobrança de um livre que tinha Artur batido. O empate ao intervalo podia até aceitar-se, mas o melhor jogo fora indiscutivelmente do FC Porto.
O Benfica chegou ao 2-1, de novo sem nada fazer por isso, na inevitável cobrança de um livre, mil vezes ensaiado e já visto, mas que Otamendi (tanta insegurança, meu Deus!) ainda não tinha visto: de novo Cardozo, o jogador do Benfica que eu mais temo. Pensei então que o FC Porto podia perder, mas isso não fazia sentido nem tinha ponta de justiça. Felizmente, havia um trunfo guardado: a lesão de Varela não deixava a Vítor Pereira outra hipótese que não meter em jogo James, mesmo com os fusos horários trocados, o sono e o cansaço acumulados. E foi então que Vítor Pereira me surpreendeu pela positiva e talvez pela primeira vez: para a entrada de James fez sair Rolando, confiando que Djalma chegaria para um desinspirado Gaitán, e devolveu Maicon ao seu lugar natural como central. Com isso, ganhou várias coisas: estabilizou o centro da defesa, onde Maicon é neste momento o melhor elemento, corrigindo o erro recorrente de o desperdiçar a lateral, onde é apenas banal; ganhou um defesa-extremo, na pessoa de Djalma; fez entrar aquele que é actualmente o melhor jogador da equipa e o seu grande desequilibrador e que, por uma vez, se percebia que tivesse ficado no banco de início; e, sobretudo, num momento decisivo, mostrou que queria ganhar o jogo, ao contrário de Jorge Jesus. James entrou e, como vem sendo hábito, logo mexeu com o jogo, compensou o abaixamento visível do trio Moutinho-Lucho-Hulk, e lá empatou o jogo, numa grande jogada que iniciou e finalizou, como jamais o Varela ou o Cristian Rodriguez seriam capazes de fazer.
A seguir veio a expulsão de Emerson e, face à suicidária escolha de Gaitán para lateral-esquerdo, Vítor Pereira percebeu que era por ali que podia ganhar o jogo, com Djalma e Huk contra Gaitán e, a espaços, ainda com o reforço de James. E ainda trocou o Moutinho pelo Kléber, reforçando a mensagem passada aos jogadores: agora é para ganhar! E foi. É verdade verdadíssima, que o golo da vitória do Porto, o merecidíssimo golo de Maicon, nasceu em off-side tangencial, que a televisão mostrou, e que ninguém conseguiria enxergar no campo, (excepto, claro, Jorge Jesus). Mas também é verdade que o que decide o jogo é a saída falhada de Artur, e também é verdade, verdadíssima, que, se se derem ao trabalho de rever, verificarão que o livre que dá o segundo golo ao Benfica não existe. É ela por ela. E a convicção de que se não tivesse sido então e assim, o Porto chegaria à vitória doutra maneira e mais logo.
Foi uma vitória merecida de princípio ao fim – no momento da verdade, no jogo do título, contra todas as adversidades e com um a atitude de verdadeiro campeão. Não sei se o FC Porto o será ou não, mas, pelo menos, mostrou que pode vir a sê-lo, contrariando todos os prognósticos (o meu incluído), e finalmente arrancando um grande jogo esta época e dando a todos os portistas uma alegria de há muito tão desejada.
Como disse o meu filho, parecia a equipa do ano passado!
Na hora da vitória, Vítor Pereira foi contido e cavalheiro, mostrando que sabe ganhar. Já Jorge Jesus voltou a mostrar que não sabe perder: descobriu que o FC Porto, além do golo, não teve mais nenhuma oportunidade em toda a primeira parte; descobriu que o segundo golo portista nasceu de uma pretensa falta a oitenta metros de distância, que só ele e o presidente do Benfica enxergaram; conseguiu ver, de onde estava e de frente para um cacho de jogadores em movimento, o off-side no terceiro golo do Porto que “o fiscal de linha não quis marcar”, e descobriu ainda que, a haver um vencedor, “teria de ser o Benfica” (atordoado como estava, nem realizou que tinha havido mesmo um vencedor). Oxalá estejamos a assistir ao remake de um filme que eu já vi a temporada passada e que já sei que acaba bem: a arrogância derrotada pela vontade de vencer.
2 – Mesmo para alguém que não é crente, como eu, às vezes há sinais evidentes de uma justiça, que, se não é divina, é para além dos homens. O Benfica, com a conivência da Liga, montou as coisas de maneira a que o FC Porto chegasse à Luz de rastos para o jogo do título: afinal foram eles que acabaram de rastos (Cardozo, Aimar, Gaitán, Garay) e o FC Porto que começou e terminou galopante, com o supremo toque de sadismo de ter sido o jogador mais massacrado pelo jogo e viajem, apenas 48 horas antes, quem despachou o Benfica, com um golo e assistência para outro.
E, enquanto o Porto triunfava na Luz e assumia o comando isolado da Liga portuguesa, André Villas-Boas – que, sem aviso e em cima da hora, abandonou à sua sorte o clube e o grupo de jogadores que lhe tinham dado tudo o que ele conquistara – consumava o seu falhanço em Inglaterra, despedido por Roman Abrahamovich, após mais uma derrota. Se não é justiça divina anda lá perto.
PS - o vídeo dos Portistas
http://www.youtube.com/watch?v=s468IiJvOvc&feature=related

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