quarta-feira, 24 de abril de 2013

Miguel Sousa Tavares

Extrato

…Dizia Pedro Henriques, na Sport TV que o árbitro estava com um “critério largo” mas imparcial e que os jogadores teriam que se habituar a ele. As duas afirmações estão erradas (como é evidente): o critério foi tudo menos imparcial e os jogadores só têm que se regular pelas dezassete leis do jogo e não pela particular interpretação que delas faz um qualquer árbitro. Se um jogador vai chutar à baliza, isolado e dentro da área, e, no momento do remate, é atingido no pé de apoio, não há critério largo que disfarce a agressão. O Sr. Capela não teve um critério largo: teve um critério à medida- só com uma direção, uma cor e um sentido. E o seu critério escandalosamente unilateral falseou o jogo. Mas outra coisa eu não esperava quando, na véspera do jogo, vi Rui Gomes da Silva elogiar a equipa de arbitragem – logo ele, que acha que quase todos os árbitros são desonestos.
E daqui resultam dois problemas. Um é que uma época relativamente pacífica, em termos de arbitragem, foi decisivamente manchada, justamente num dos jogos em que o não podia ser. E outro, é que não sei como é que Bruno de Carvalho vai agora poder gerir a sua pouco sub-reptícia aproximação ao Benfica (cujo apoio para a discussão com os bancos parece bem conveniente). Depois de o sistema ter sido exposto perante todo o povo sportinguista e à sua custa, como poderá ele aprofundar esta janela de amizade sem cair em contradição?

…agora foi com espanto que constatei que o mesmo árbitro que, numa só jogada de dúvida, se decidiu logo pelo penalty e expulsão de Abdoulaye, que resolveram o jogo de Coimbra, foi o mesmíssimo que esteve anteontem na Luz. E que, em três ou quatro penalties na área do Benfica, não viu razão para assinalar nenhum, e que, a agressões cometidas por Garay, Maxi e Matic, não viu razão sequer para um amarelo. O mesmo árbitro do critério rigoroso em Coimbra aparece transfigurado em adepto de um critério largo, na Luz. Talvez, afinal, eu ande demasiadamente distraído e tenha também de começar a fazer registo das coincidências e descoincidências do futebol. Passo a registar, por exemplo, que João Capela tem, na opinião de Jorge Jesus, um grande futuro pela frente. Ou será antes um grande passado pela frente?

…Uma coisa eu sei: não há uma só voz, com um mínimo de seriedade, que possa dizer que o FC Porto ganhou este ano um ponto que fosse graças à arbitragem. Nós não tivemos arbitragens como a do Sr. Capela nem jogos decididos ao minuto 96, com penalties inventados em desespero de causa. Mal ou bem (e mais mal que bem) fomos a jogo sozinhos.

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