sexta-feira, 11 de abril de 2014

Futebol - Opinião

11/04/2014 - Brasão abençoado - Humilhados e ofendidos

Crónica de Pedro Marques Lopes  

O que se passou foi demasiado grave para que fique tudo na mesma. É preciso refletir se a maioria daquela gente pode ser do FC Porto.

Foi o epílogo lógico duma época que envergonha todos os portistas: uma goleada frente a uma equipa absolutamente medíocre que jogou quase meia parte com dez jogadores.

A humilhação de ontem não pode ser explicada nem pelo erro brutal que foi a escolha do anterior técnico, nem pela inexplicável teimosia de não o substituir quando ainda se podia mudar qualquer coisa. É evidente que essas duas decisões tiveram um peso significativo neste patético culminar, mas ontem aqueles rapazes de brasão abençoado ao peito não foram merecedores da camisola que vestiam. É bom que saibam que ofenderam a memória do clube e todos os adeptos e sócios, os de agora e os que já nos deixaram.

Podia pensar que aquela falta de intensidade, aquela falta de garra, aquela lassidão, aquela apatia, aquela falta de solidariedade, aquela falta de união (talvez espelho de faltas de coesão a outro nível) que quase toda a equipa demonstrou, se teria devido a uma falta momentânea de perceção do que significa jogar no FC Porto. Mas se aqueles não estavam cientes da importância daquele jogo para o FC Porto é porque não têm capacidade para pertencer ao principal plantel do clube.

Seja como for, o que ontem se passou foi demasiado grave para que tudo fique na mesma. É preciso mesmo refletir se a maioria daquela gente tem o que é preciso para ser do FC Porto. Pelo que mostraram ontem e em outros momentos decisivos da época, com este ou o antigo treinador, este plantel tem de levar uma grande, uma enorme volta. E, note-se, continuo a pensar que é Paulo Fonseca o grande responsável por este desastre de época. Dele e de quem o escolheu e manteve, repito. Mas antes que os abutres do costume comecem a bater palmas, é bom relembrar que quem escolheu esse treinador e este plantel, escolheu também outros que tantas vitórias nos deram.Também mantenho que há enorme qualidade neste lote de jogadores e que seria preciso fazer evoluir alguns jogadores - há casos perdidos e erros demasiado óbvios de casting, como é sabido. Mas há coisas mais importantes que a qualidade técnica ou física. Para jogar no FC Porto é preciso mais. Jogadores campeões, jogadores à Porto não são goleados por uma equipa de segunda categoria, não estão a oito pontos duma equipa sofrível, não entregam o campeonato a cinco ou seis jornadas do fim. Seja quem for o treinador, sejam quais forem as circunstâncias.


Chegados a este ponto, verifico que é sobre este conceito que tenho uma profunda divergência com PML. Porque se fosse como ele crê, não haveriam treinadores especiais, uns melhores do que outros, estariam todos ao mesmo nível e seriam todos iguais na competência, não existiriam treinadores vitoriosos e derrotados. E nós sabemos que não é assim, porque não é por acaso que: José Mourinho, Carlo Ancelotti, Arsène Wenger, Van Gaal e Pep Guardiola...etc...etc... se distinguem dos demais...; são mais requisitados do que outros, com os resultados (êxitos, sucessos) conhecidos de toda a gente...!

A época está perdida. Encerrou com estrondo, com humilhação, com vergonha. Uma vitória na Taça será nada, face a tudo que aconteceu. E não foi, é bom que fique claro, termos sido esmagados neste jogo, não termos passado à segunda fase da Liga dos Campeões ou termos oferecido o campeonato, foi a maneira como os perdemos. Já perdemos outras vezes - menos que os outros, porém - mas lutamos sempre até ao último suspiro. Nós, portistas, ficamos sempre com a sensação que se fez tudo. Este ano não.
Temos sabido aprender com os erros - foi também isso que nos fez grandes. É preciso mudar muita coisa. Muita coisa mesmo.
 

A alfândega Quaresma

QUEM achar que pretendo culpar o Quaresma pela derrota de ontem veio bater à porta errada. Foi dos dois ou três jogadores que mostrou perceber o que é o FC Porto e que lutou rijamente. Mal, mas com muita alma.
 Também ninguém negará o talento de Quaresma. É capaz de num lance de génio decidir um jogo, de com uma trivela mágica dar cabo duma defesa, de marcar um golo fantástico como o de ontem. Chegado ao Dragão, ajudou a equipa a melhorar e acrescentou criatividade ao plantel. Mas de uns jogos a esta parte tem estragado mais do que tem construído. Em primeiro lugar, funciona como uma espécie de alfândega: tudo tem de passar por ele. Não há livre, não há penalty, não há canto que não seja ele a marcar - com os resultados conhecidos. Em segundo, é certo e sabido que se panha uma bola no último terço do campo só por milagre a passa. Pode ter um colega desmarcado à frente do guarda-redes que de certeza vai tentar fintar mais um rapaz que lhe apareça. É desesperante para todos nós, portistas, e é quase insultuoso para os seus colegas de equipa. É que não só ignora a presença dos seus companheiros de equipa como fica enfadado se não a fazem passar pela alfândega. Há jogadores, que se percebe, têm pânico dele. Quem lhe terá dito que é mais que os outros? Terá um empresário que manda mais que o treinador?
O facto é que o Quaresma está a estragar o jogo ofensivo do FC Porto quando podia e devia estar a iluminá-lo com a sua genialidade.


Neste ponto também há quem discorde desta maneira de pensar e justifique a atitude do Quaresma pelo facto dele não confiar na capacidade dos colegas para resolverem os lances com êxito, ou seja, desperdiçarem todo o esforço produzido pela equipa até à altura, por inépcia, por incapacidade ...

Amores

 No romance Febre no Estádio, Nick Hornby discorre sobre o seu amor por futebol e a sua assolapada paixão pelo Arsenal. O escritor inglês descreve os mais marcantes momentos da sua vida e associa-os a jogos, golos, vitórias e derrotas do seu clube do coração. O livro, que recomendo a todos os amantes do jogo e de bons livros, não faz mais que todos os outros: conta histórias nossas através dos seus personagens. Ontem, vi o jogo Sevilha-FC Porto num hospital com um dos meus filhos. A última vez que o fui ver a um hospital foi há quase vinte anos. Num dos mais felizes dias da minha vida, enquanto tinha aquele recém nascido lindo de morrer nos meus braços, olhei pelo cantinho do olho para a televisão. O Domingos tinha acabado de marcar ao Marítimo. Não chegou, apesar do golo do grande Paciência perdemos o jogo. Para mim, o meu rapaz chorou quando o jogo acabou e não há quem me convença do contrário, até porque é tão portista como eu.
Quinta-feira, depois duma operaçãozita sem problema de maior, voltamos a sofrer juntos num poiso não habitual. Acabado o jogo, limpamos as lágrimas um do outro. Os hospitais dão-nos azar.
Em verdade, em verdade vos digo, tristes aqueles que não amam este jogo.

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