terça-feira, 2 de março de 2021

As "Finanças" dos três grandes ?

Falemos de finanças: o investimento doido do Benfica, as omeletes com ovos de codorniz do Sporting e as manobras de diversão do FC Porto por Pedro Santos Guerreiro (uma análise meio suspeita) fornecido por Tribuna
A análise dos resultados do primeiro semestre das três SAD, que acabam de ser publicados, mostra como a diferença de forças é inversa aos resultados. O mais fraco está a ganhar, os mais fortes a perder. E se o Sporting assim merece todos os elogios, por ter de longe menos dinheiro, FC Porto e Benfica têm de ser chamados à cobrança. Sobretudo o clube da Luz: é inadmissível gastar tanto dinheiro e ter tão baixos retornos. Não se trata aqui, pois, de análise desportiva, coisa que remeto para quem aqui na Tribuna Expresso percebe a sério de futebol. Trata-se de uma análise da gestão. E da má gestão.
Num clube, os sócios são mais importantes que os acionistas. Porque não se ganha campeonatos para lucrar, lucra-se para ganhar campeonatos. Mas clubes inviáveis não têm futuro. Que o diga o Sporting, que mesmo beneficiando de um perdão de dívida camuflado nas VMOC está agrilhoado por erros financeiros que o iam matando. Daí ser exigível avaliar não só treinadores, mas também gestores.
No Benfica, não é admissível gastar tanto dinheiro para quase nada. O clube foi o único que, este ano, gastou mais a comprar jogadores do que a vender. E, mesmo não parecendo (já lá vamos), é também o que tem a folha salarial mais elevada. Perante um investimento tão alto, os resultados são miseráveis. Se não houver uma grande recuperação, a equipa não só perde o campeonato como o acesso à Champions. Nesse caso, terão de rolar cabeças.
Salários: 250 milhões para tão fraco futebol?
Números gordos: o Benfica e o FC Porto gastaram cerca de 50 milhões cada um em custos salariais nos primeiros seis meses deste ano de 2020/2021. O Sporting gastou menos de 30 milhões. Menos 40% que os rivais.
Análise mais fina: apesar de tantas contratações, o Benfica “só” gastou mais 3,5 milhões e meio em custos salariais, para um total de 49,6 milhões. No entanto, a temporada está a correr mal, pelo que a equipa está a gastar muito menos em prémios de jogos: menos 4,5 milhões do que nos mesmos seis meses do ano passado. Isso sugere que, na verdade, o Benfica aumentou os seus custos salariais permanentes em cerca de oito milhões em seis meses, mais 20%.
Enquanto isso, o Sporting baixou os custos salariais em 17%, para 29,1 milhões. E o FC Porto estará sensivelmente no mesmo nível do ano passado. É que embora o relatório e contas mostra uma subida de 18%, para 51 milhões, estes valores incluem prémios de 9,5 milhões relativos à época anterior (vitória no Liga e na Taça). Quando se retiram estes prémios relativos à época passada, o nível salarial do FC Porto é inferior ao do Benfica, que aliás tem o “jogador” mais caro de Portugal: Jorge Jesus.
Se extrapolarmos, percebe-se que o Benfica deverá gastar este ano entre 90 e cem milhões de euros (dependendo dos prémios); o FC Porto gastará um pouco menos, descontando os prémios do ano passado; e o Sporting gastará entre 60 e 70 milhões. A disparidade é enorme, mas quem está a dar baile é quem gasta menos. No total, os três grandes gastarão perto de 250 milhões de euros nas folhas salariais.
Investimentos: só o Benfica gastou mais a contratar
O Benfica não é só o clube que paga mais salários, é também o único dos três que gastou mais a comprar jogadores do que recebeu a vender, naquilo a que se chamou um “all in” de cem milhões. No relatório e contas semestral, a SAD da Luz é tão lesta a realçar em tabelas os ganhos com vendas de jogadores quanto a nelas esconder o quanto gastou em compras. Mas, somando informação dispersa (e sem que haja referências aos salários da equipa técnica de Jesus), chega-se perto dos tais cem milhões. No saldo entre vendas e compras de jogadores, o Benfica desembolsou perto de 30 milhões de euros, enquanto Sporting encaixou perto de 20 e o FC Porto cerca de 40 milhões.
Sporting faz omeletes com ovos de codorniz
Os resultados desportivos do Sporting são assim ainda mais notáveis. O clube é de longe a menor dos três (em ativos, em receitas e em salários) e não investiu este ano, pelo contrário, reduziu custos. Mais: este ano também é o que perde mais receitas, porque não tem competições europeias a compensar as perdas de bilheteira e de publicidade, pelo que acumula prejuízos. Ganhar o campeonato, se se confirmar, não tirará o Sporting do lugar difícil em que está, mas garantirá um crescimento de receitas brutal no próximo ano, desde logo pelo acesso à Champions.
FC Porto mal mas não péssimo
O FC Porto vive, por mérito próprio, da Champions. Só nos últimos seis meses, encaixou 56 milhões nesta competição (quase seis vezes o que tinha encaixado no primeiro semestre da época anterior). Foi isso, e as vendas de jogadores, que compensaram a quebra de bilheteira e publicidade, e lucrar quase 35 milhões de euros.
Os resultados económicos do FC Porto são este semestre bons, sobretudo tendo em conta a pandemia. O problema é financeiro: a SAD voltou a aumentar o passivo para quase 500 milhões, o mais alto em Portugal. E isso cria uma pressão permanente sobre a tesouraria. É por isso que, quando se ouve Pinto da Costa culpar o secretário de Estado do Desporto por tudo e por nada, dá vontade de rir. É uma evidente manobra de diversão para problemas antigos da SAD, que tem uma saúde financeira frágil e dependente da Champions, sob pena de se desmoronar.
Benfica com falta de… carinho?
O Benfica é, de longe, o clube maior e mais sólido financeiramente. Isso é em grade parte obra daquele que provou ser o melhor administrador de futebol da última década, Domingos Soares de Oliveira. O financeiro só tem uma nódoa, a OPA do ano passado que a CMVM considerou ilegal (por pagar “com o pêlo do próprio cão”). Tirando isso, Soares de Oliveira recuperou ao lado de Vieira um clube que estava à beira da falência, reestruturou e reduziu o passivo e o Benfica é hoje o único com capitais próprios positivos, mercê ainda da estratégia de Vieira de formação e venda de jogadores. Foi esta margem dos últimos anos que permitiu ao Benfica investir desta forma doida este ano.
Doida? Sim, para os critérios antigos do próprio Soares de Oliveira, parece doida. Ele, que esteve aliás para sair do Benfica, será o gestor mais incomodado com o fracasso deste investimento, já feito em pandemia e que voltou a aumentar o passivo em cerca de cem milhões, depois de perder 40 milhões de receitas neste semestre ao passar da Champions para a Liga Europa, o que também já se sabia no verão.
Depois de rir com a obsessão de Pinto da Costa com o secretário de Estado do Desporto, ri-se ainda mais com a desculpa do “carinho” e da pandemia do Benfica. Pelo óbvio: a pandemia não afeta um, afeta todos. São desculpas de maus pagadores. Ou de mau gestores.
De todos, o pior este ano é Luis Filipe Vieira, porque foi o que mais investiu e o que menos colheu. Tanta força e investimento justificavam o sonho da hegemonia. Mas se nem à Champions for, chapéu para o Benfica, chapelada para o Sporting.
Cada vez mais parece o que sempre pareceu: que o investimento foi uma forma de Vieira ganhar as eleições, (a)pagando com contratações milionárias a péssima época desportiva que então acabava. Esta pode acabar da mesma forma. Só que não há eleições a seguir. Haverá o quê? Menos dinheiro. E menos algumas cabeças. Quais? Vieira, autoproclamado como “único responsável”, tem uma espada sobre a cabeça e uma navalha nas mãos.

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