Dúvida? Não, mas luz, realidade: o Futebol Clube do Porto é uma das oito melhores equipas da Europa.
O sonho que na luta amadurece concretizou-se. Pela frente estava uma equipa que só ganhou nove campeonatos de Itália nos últimos nove anos, que tem um plantel que teoricamente vale quase o triplo do do FC Porto e que tem como principal estrela um goleador que é um dos melhores jogadores da história do futebol.
Como não há derrotas quando é firme o passo, e porque o passo dos jogadores do FC Porto é bem seguro, desta vez a derrota até foi, na verdade, uma vitória: sim, a Juventus venceu por 3-2, mas quem avançou para os quartos de final da mais difícil competição de futebol do mundo foi o campeão de Portugal. O Futebol Clube do Porto.
Deram tudo por nós esses atletas. O Marchesín, que defendeu tudo o que pôde. O Pepe, que fez 18 cortes, ganhou todos os duelos aéreos e é um capitão à Porto. O Sérgio Oliveira, que marcou os dois golos e é outro capitão à Porto. Toda a mocidade invicta, todos os heróis que transportaram os nossos sonhos naquele relvado.
Eles são sempre heróis, são sempre portugueses, mesmo quando nasceram em terras distantes e têm os passaportes mais diversos. Graças a eles, Portugal era o único país que não os dos cinco principais campeonatos da Europa que tinha um representante nos oitavos da Champions. Graças a eles, continuará a ser o único, pois claro, nos quartos.
Azul, branca, indomável, imortal. Assim avançou ontem a bandeira do FC Porto em Turim. Após a vitória por 2-1 no Estádio do Dragão, uma primeira parte quase perfeita na casa da Juventus resultava numa vitória por 1-0 ao intervalo. Depois o cenário mudou. Já com o jogo empatado, Taremi foi expulso. Segundo as sempre falíveis leis da lógica do futebol, estaria quase tudo perdido.
Não estava. Pela frente havia mais de meia-hora de desvantagem numérica, mas os campeões nacionais aguentaram. Seguiu-se o prolongamento e mais 30 minutos assim. No total, foram 66 de dez contra onze. Quando os penáltis já estavam no horizonte, houve um livre mais ou menos na mesma zona daquele que McCarthy bateu 17 anos e nem mais um dia antes, em Old Trafford, e o que se seguiu não foi igual, mas foi parecido: Sérgio Oliveira marcou direto, a bola entrou, o FC Porto passou para a frente da eliminatória, e nem o golo que a Juventus marcou logo a seguir estragou uma história tão bonita.
No fim, treinador e jogadores convergiram nas ideias e nas palavras. Para Sérgio Conceição, nunca deixar de acreditar é “o verdadeiro ADN do FC Porto”. Para Pepe, “ser Porto é nunca se dar por vencido e lutar até ao final”. O capitão completou: o “belíssimo jogo” azul e branco foi temperado com “muito caráter” e também “muito amor”.
O mérito do FC Porto foi reconhecido na hora um pouco por todo o mundo. A própria Juventus não demorou a endereçar-lhe os parabéns. Aos microfones da norte-americana CBS, o selecionador da Bélgica, Roberto Martínez, enfatizou a importância do feito: “Grande clube. É um momento histórico. Há 17 anos, o FC Porto eliminou o Manchester United contra todas as probabilidades. Era algo que estava escrito nas estrelas”. Só não estava escrito nas capas da imprensa portuguesa, que no dia de um jogo tão importante optou por quase ignorá-lo e menorizá-lo face a acontecimentos irrelevantes, e que acabou uma noite histórica como esta a fazer a pobre figura de não comparecer na conferência de imprensa virtual de Sérgio Conceição.
Talvez seja este “o nosso fado”. Muitas vezes contra tudo e contra todos, sempre contra a vontade de quase todos. Mesmo assim, o desejo profundo de tornar maior esta cidade voltou a concretizar-se. Azar o deles. Os quartos de final da Liga dos Campeões vão jogar-se entre 6 e 14 de Abril e o FC Porto lá estará, mais uma vez. Como não pôr no Porto uma esperança, se daqui houve nome Portugal?
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