terça-feira, 17 de março de 2015

Campeonato inquinado para benefício do Benfica

17/03/2015 - Nortada – terça-feira 24 de Fevereiro de 2015

Campeonato? Qual campeonato? Miguel Sousa Tavares in abola


O campeonato de futebol português da época em curso não está a ser e não é um campeonato


1 – Um campeonato é uma competição organizada entre indivíduos ou equipas em que o traço mais característico é o de todos se submeterem às mesmas regras – e é isso, justamente, que fornece a emotividade de uma competeição.
Não quer dizer que à partida todos combatam com armas iguais – porque uns são mais fortes do que outros, uns dispõem de mais meios do que outros, uns têm melhores condições para competir do que outros. Mas quer dizer que a desigualdade de condições, que é própria de qualquer competição, não implica, antes impede, a desigualdade de regras competitivas. Sob pena de não valer a pena competir e de as vitórias, assim obtidas, serem desprovidas de mérito.


Nortada - Terça-feira 17 de Março de 2015


“First, we take Manhattan, than we take Berlin” Leonard Cohen


Contra o FC Porto, pontapé na cara do avançado dentro da área, não dá direito a “penalty”, a expulsão, ou qualquer falta

1 –
MANHATTAN já está tomado: são os quartos de final da Champions, um lugar ao sol entre as oito melhores equipas europeias do ano.
Agora, segue-se o caminho até onde for, quem sabe mesmo, até à final de Berlim. Muito vai depender do sorteio (que, até agora, reconheço que nos tem sido propício). Uma coisa seria apanhar com o Bayern ou o Barcelona, outra, bem mais simpática, apanhar o Mónaco ou o Atlético de Madrid. Mas, não sei porquê, tenho o pressentimento de que o FC Porto não se vai ficar pelos quartos, que vai pelo menos, dar um passo mais adiante. E isso já seria absolutamente notável, num quadro competitivo a nível europeu em que a desigualdade entre os tubarões e os outros é cada vez maior – e pior será se for avante a proibição dos fundos de jogadores, que são a única coisa que permite a clubes da segunda divisão europeia, como o FC Porto, esboçar alguma concorrência com os tubarões sustentados a fundo perdido por oligarcas russos, príncipes árabes e milionários americanos ou asiáticos.
Eu sei que, em rigor, e olhando para o onze inicial do FC Porto contra o Basileia (sem nenhum português), não se pode dizer que tenha sido uma equipa portuguesa a chegar aos quartos da Champions, mas apenas uma equipa estrangeira ao serviço de um clube português. Mas essa é também a regra entre os tubarões, que compram o melhor que o dinheiro pode pagar, independentemente da origem. O futebol actual, mesmo a nível das chamadas selecções nacionais, é cada vez mais um território de apátridas, unidos somente pelo valor comum do dinheiro. E é à luz dessa realidade que a proeza do FC Porto tem de ser valorizada.

2 – Já se escreveu tudo sobre o jogo dos portistas contra o Basileia e, desta vez, a unanimidade dos elogios dispensa a sua repetição. Apenas acrescentarei três notas pessoais. Uma para dizer que é em noites destas que eu sinto, esmagadora, a diferença de qualidade competitiva entre o FC Porto e os seus rivais internos; a diferença de atitude, de coragem e de estatuto internacional. A segunda nota, para dizer que finalmente vi um grande jogo a Casemiro. Poderia, sem esforço, reconhecer que me enganei quando, meses atrás, tanto o criticava: mas não, foi ele que me enganou e felizmente, deixando de ser o jogador apenas caceteiro que se começou por ver, e passando a ser um jogador que substituiu as faltas pela rapidez de intervenção, acumulando isso com uma faceta escondida de distribuidor de jogo, capaz de ver além do grande círculo. E a terceira nota para dizer coisa semelhante em relação a Lopetegui. Vi aí quem escrevesse que os que criticaram Lopetegui no início da época deviam agora meter a viola ao saco. Eu fui um desses críticos, mas longe de exigir a sua cabeça: exigi só que pensasse e se deixasse de experiências sem sentido. E, de facto, ele mudou: fixou um onze base, certo ou errado, e assim criou rotinas de jogo e passou a tirar melhor partido de cada jogador. Provavelmente ele nunca o reconhecerá, como é lógico, mas este foi um dos casos em que as críticas foram construtivas e ajudaram a mudar o que estava mal. A viola ao saco é para aqueles que só se atrevem a criticar depois do treinador ser despedido.

4 – Afinal, o suave Braga que o FC Porto apanhou pela frente foi o mesmo, mas ainda mais suave, aquele que o Benfica apanhou. Perderam assim alguns benfiquistas notáveis uma excelente ocasião para terem ficado calados, em lugar de lançar ao ar suspeitas ofensivas da dignidade profissional dos jogadores e do treinador do Sp. Braga. Sobretudo, quando um filho de Sérgio Conceição é jogador dos juvenis do Benfica (esta não…!!! Então o Sérgio permitiu que um filho seu optasse pelos lampeões em vez de tentar jogar nos Dragões?!) e o mais destacado dos que o ofenderam é vice-presidente do clube. Mas a verdade é que me fui apercebendo aos poucos que esta época o Benfica fará tudo, mas absolutamente tudo, sem olhar a meios nem a pruridos, para não deixar escapar o título que, de outro modo, sente que nunca seria capaz de alcançar.

5 - Alguém disse que é preciso muita coragem para um árbitro expulsar um jogador do FC Porto, no Dragão e com o resultado a zero. Talvez seja, mas neste campeonato já é a segunda vez que tal acontece (e, da primeira, custou-nos dois pontos contra o Boavista). De ambas as vezes, jogámos com um a menos durante quase todo o jogo, e, em Braga, para a Taça da Liga, jogámos com dois a menos durante uma hora. Não discuto propriamente as expulsões (a de anteontem foi daquelas que dependia do critério do árbitro, tanto podendo ser uma coisa como outra), mas discuto a uniformidade de critérios, como é óbvio. Enquanto uns disputam mais de um terço dos jogos contra adversários que acabam com jogadores expulsos, a nós, e só a nós, sucede o contrário. Acho que vai ser preciso rever aquela máxima de que “os grandes são sempre beneficiados” e substitui-la por outra: “alguns grandes são sempre beneficiados”. E, já agora, muda-se também a regra do penalty, ficando estabelecido que, se for contra o FC Porto, pontapé na cara do avançado dentro da área, não dá direito a penalty, a expulsão, ou sequer a falta.
Mas é notável verificar que, reduzido a dez durante 84 minutos, acumulando esse esforço extra com o cansaço de um jogo intenso a meio da semana e tendo de defender o resultado na segunda parte, o FC Porto só tenha cometido, em todo o jogo, seis faltas (as mesmas que cometeu no jogo contra o Basileia)!
Para uma equipa cujos jogadores são expulsos com tanta frequência, não deixa de ser curioso…

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