09/01/2015 - O Nuno e o “Túnel, parte II” por Pedro Marques Lopes
Nada melhor para um adepto do FC Porto ou do Benfica que uma longa estadia de Bruno Carvalho à frente dos destinos do Sporting…
-> Anteontem, doze homens deram a vida por mim e por si, cidadão que vai ler esta crónica.
Foram assassinados por defenderem o meu direito a dar a minha opinião e o meu direito a lê-la. Nunca lhes agradeceremos o suficiente. É em memória deles que humildemente passo a exercer o sagrado direito que morreram a defender, “Je suis Charlie”.
Temi que que a ascensão repentina do Nuno Espírito Santo corresse mal. Convenhamos, passar do Rio Ave para o Valência, sem qualquer outra experiência como treinador, diz muito mais acerca do poder de alguns agentes no futebol de hoje do que sobre as qualidades do antigo guarda-redes. Mas, e como em quase tudo, os resultados é que mostram quem te razão. Pelos vistos, Jorge Mendes estava certo: o Nuno estava mais que pronto para treinar uma das principais equipas do futebol espanhol. É certo que lhe foram dados meios invejáveis, mas nem mais nem menos do que a outros treinadores e, sobretudo, teve de construir uma equipa em pouco tempo. O Valência joga bem e, como todas as equipas que jogam bem, ganha. O último jogo contra o Real Madrid foi um bom exemplo disso mesmo.
Fico, como portista, muito contente por estar tudo a correr pelo melhor ao Nuno. Não me esqueço do seu profissionalismo e da maneira como honrou o brasão abençoado. Não me esqueço da forma como abraçou a nossa causa, do seu altruísmo, da defesa intransigente do clube e dos seus colegas, da sua garra, da revolta como encarava as injustiças de que tantas vezes somos alvo. Não me esqueço de como, em Sevilha, arreganhou os dentes ao troglodita Martin O’Neill e não permitiu que ele se aproximasse dos seus colegas. Mas, sobretudo, não me esqueço que foi ele o líder da defesa dos seus colegas e do FC Porto aquando duma das maiores vergonhas do futebol português: o caso do túnel da Luz. O tal em que foi administrativamente oferecido um campeonato ao nosso rival. Jamais esquecerei a fúria contida como se insurgiu contra aquela vigarice. Estivesse ele ainda no FC Porto e talvez fosse o primeiro a denunciar a pouca vergonha que está a acontecer à vista de toda a gente. Um Túnel, parte II, espectáculo levado à cena todo o santo fim de semana. Desta vez não há stewards, nem o afastamento do melhor jogador do campeonato, é feito de expulsões perdoadas, de adversários retirados de campo por dá cá aquela palha, de arranjos para que os melhores jogadores de outras equipas não joguem, de golos em fora de jogo, de juízes de linha que se comportam como defesas. A sequela tem banda sonora e tudo, um tema denominado tudo isto é eficiência com que se tenta distrair o pagode.
Para mim, o Nuno será sempre um dos nossos.
O eterno mestre
Na cerimónia de homenagem a José Maria Pedroto, trinta anos após a sua morte, foi lida uma mensagem do Prof. Manuel Sérgio. Nela, o maior pensador português sobre o fenómeno desportivo, dizia que Pedroto e Pinto da Costa fizeram a maior revolução a que se tinha assistido, não no futebol português, mas no desporto nacional.
Acrescentaria, e penso que o professor não se indignará, se acrescentar que Pedroto (com Pinto da Costa) iniciou o mais espantoso período de vitórias nacionais e internacionais da história do desporto português, sem paralelo, sequer, próximo. Pois é, contra factos não há argumentos.
Para quando uma homenagem nacional como deve ser ao Mestre? Ah espera, o Pedroto ganhou pelo FC Porto. Esqueçam lá isso.
A vez do Rúben
JOGUE o FC Porto como jogou nos últimos 70 minutos contra o Gil Vicente e não haverá Capela ou Mota que o impeça de fazer uma grande segunda volta; jogue a equipa como nos primeiros 20 minutos desse mesmo jogo e corre o risco muito sério de perder muitos mais pontos e sair já da Liga dos Campeões.
Não foi só o Casemiro a mostrar que estava com a cabeça noutro lado e a ser displicente. Não tenho rigorosamente dúvida nenhuma de que o brasileiro é um grande jogador e que ainda vai melhorar muito, mas naquele lugar do campo é preciso alguém que mostre maturidade e dê segurança à equipa, e ele tem tido demasiadas falhas exatamente nesses aspetos. Uma estadia no banco far-lhe-á bem e fará com que regresse mais forte.
Por outro lado, Rúben Neves pode não ter a agressividade do Casemiro ou a sua capacidade defensiva, mas ganha claramente na qualidade de passe e, apesar dos seus 17 anos, na maturidade e na concentração competitiva. E este FC Porto precisa disto como do pão para a boca.
Bruno de Carvalho “forever”
Não percebo aqueles adeptos do meu clube que dizem torcer pelo Benfica ou pelo Sporting em provas internacionais. Estivesse uma equipa de Marte a jogar com qualquer desses clubes e eu usaria de bom grado uma camiseta a apoiar os marcianos. Espero exatamente o à frente dos destinos do clube de Alvalade.
mesmo sentimento dos adeptos adversários, diga-se.
É por essas e por outras que comemorei a permanência de Marco Silva no Sporting. Tivesse o treinador saído e pouco mais tempo Bruno de Carvalho duraria como presidente do Sporting. Ora, nada melhor para um adepto do FC Porto ou do Benfica que uma longa estadia de Bruno de Carvalho
Irritações
Anda por aí uma mania particularmente estúpida: elogios ao mau perder. Aliás, os que confessam esse traço de personalidade gostam de falar dele como se fosse uma qualidade: “Ah, quando perco ninguém pode falar comigo”, ou “mesmo a jogar matrecos fico doido e berro com as pessoas quando não ganho”, dizem muito orgulhosas da sua evidente falta de educação, da sua lamentável falta de desportivismo, da sua ignorância sobre a essência do desporto. Chegam-se a passar vídeos de jogadores e treinadores a gritar palavrões, insultos a adversários ou a dar pontapés aos mais diversos objectos, depois duma derrota, e depois elogia-se aquela conduta como se fosse prova de vontade de ganhar ou de um espírito indomável. Não, não é nada disso, são apenas comportamentos imbecis. Condutas próprias dum qualquer pateta idiota e mimado que não sabe que enquanto se joga tem de se dar tudo e fazer os possíveis e os impossíveis para ganhar, mas que quando termina se deve aceitar o resultado com a consciência do dever cumprido e tendo consideração por que também fez tudo para ganhar.
Como é evidente, é tão tonto quem tem aqueles comportamentos como quem, no fundo, os elogia.
in abola
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