01/01/2015 - NORTADA - Extracto da crónica de Miguel Sousa Tavares
O homem que se julga um líder
O presidente do Sporting é tudo menos um líder, é uma caricatura do género. Muitos se deixam iludir…
1 Bruno de Carvalho é a prova de que os líderes não se fabricam nem se afirmam por auto-nomeação.
Não basta querer ser, é preciso ser; não basta declarar-se como tal, é preciso ser reconhecido como tal pelos outros; não basta querer aparentar, é preciso parecê-lo naturalmente; não basta falar grosso ou com um tom de voz grosso, é preciso ser escutado pelo que se diz; não basta arrotar postas de autoridade, é necessário que os destinatários a reconheçam sem ser por intimidação.
O presidente do Sporting é tudo menos um líder, é uma caricatura do género. Entre comunicados, entrevistas, blackouts e declarações encomendadas, ele demonstrou, nesta quadra de paz e concórdia em que se dedicou a espalhar a guerra e a discórdia entre os seus, que não tem o mais pequeno estofo de um líder.
Luís Filipe Vieira, de férias na ilha do Príncipe, ou Jorge Nuno Pinto da Costa, de férias na Praia do Forte, Bahia, mesmo à distância e em silêncio, nunca perderam, nunca perdem, a imagem de quem tudo lidera, por mais longe ou aparentemente ausente que estejam. Mas o presidente do Sporting, por mais que derrame pela TV Sporting ou pelo Facebook, consegue apenas afirmar-se como líder diante do próprio espelho. Ele manda, sim, e enquanto os sócios do Sporting não entenderem o logro, mas não lidera coisa alguma, que não a fidelidade de uns poucos (puxa-sacos; como por exemplo o Augusto Inácio) e a ignorância de uns quantos.
Quis despedir o treinador, não porque ele seja incompetente ou mau profissional, mas porque não lhe conseguiu o milagre de transformar uma equipa de segunda numa equipa de primeira. Quis despedi-lo, provocando-o, tentando enxovalhá-lo em público, esperando que ele, ou não respondesse, ou respondesse de mais – o suficiente para invocar justa causa e despedi-lo sem ter de o indemnizar. Um líder não faria isso se estivesse convicto da justeza da sua decisão, um verdadeiro líder assumia as consequências de despedir o treinador, bancava os custos e enfrentava os sócios. Não vinha depois dizer que tudo não passava de notícias sem fundamento e encomendava a outros – ao José Eduardo, concretamente – declarações assassinas e insultuosas sobre o treinador, para ver se este rompia a corda. A paz, mais do que podre, em que o balneário e a equipa agora vegetam, é resultado da falta de coragem do presidente, que não passa de um líder com pés de barro.
Nem Jesualdo Ferreira, nem Leonardo Jardim, nem Marco Silva serviram a Bruno de Carvalho. Só lhe servirá um treinador que consiga fazer de um naipe de centrais desastrados uma dupla intransponível, que consiga fazer o William de Carvalho valer 50 milhões, o Slimani ser um Jackson Martinez, ou um Ryan Gauld, grande descoberta presidencial, ser o novo Messi. Mas o único treinador que conseguiria tais coisas, o único de serviria a Bruno de Carvalho, era o próprio Bruno de Carvalho. O passo que lhe falta dar é esse: passar a ser presidente-treinador. É o único estatuto que a sua vaidade, o seu insaciável desejo de afirmação e reconhecimento, a sua pesporrência, e a sua ditatorial liderança consentem.
Muitos sportinguistas deixam-se iludir por Bruno de Carvalho. Alguns por convicção, a maioria por desespero e falta de alternativa, depois de décadas de apostas falhadas e que pareciam mais sólidas e mais credíveis. Uns mais lentamente do que outros, irão ter um despertar doloroso e, seguramente irão enfrentar problemas sem fim até se verem livres dele. Por mim, que sou portista, os males do Sporting não me causam mossa alguma, antes pelo contrário. O que me impressiona é ver como gente inteligente se deixou iludir assim. Quando eu, por exemplo, escrevi que achava estranho que ninguém se perguntasse sobre o passado profissional de Bruno de Carvalho, que ninguém achasse curial saber o que tinha feito até aí um homem de 40 anos aparentemente saído do vazio, o Eduardo Barroso ofendeu-se comigo, como se o simples facto de ser presidente do Sporting dispensasse qualquer escrutínio (lhe conferisse um atestado de competência) que é absolutamente normal de fazer a quem chega a posições de poder.
E o problema é que, tendo escolhido Bruno de Carvalho por falta de alternativa e por desesperança, todos os notáveis do Sporting, quer o confessem ou não, estão agora de mãos atadas, sem saber o que de melhor fazer: tentar pôr algum juízo naquela cabeça transtornada pelo desejo de protagonismo a qualquer preço, ou livrarem-se dele enquanto é tempo.
* As frases em itálico e os sublinhados são de minha autoria
1 comentário:
@ sr Armando Monteiro
que, contra todos os andores, colinhos, capelas & afins, em Maio próximo, consigamos estar nos Aliados a comemorar o título nacional, com a Equipa toda no varandim da Câmara Municipal.
ps:
e um excelente 2015! para todos nós! :D
somos Porto!, car@go!
«este é o nosso destino»: «a vencer desde 1893»!
abr@ços
Miguel | Tomo II
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