terça-feira, 25 de março de 2014

Extrato da crónica de MST

Eis aqui o extrato duma crónica: muito bem conseguida, objectiva e intelectualmente honesta, do Miguel de Sousa Tavares!

1 - Faço um esforço para me manter calmo e pensar que o principal de tudo é o futebol.
Há, pois, que esquecer o resto: as peixeiradas, as discussões sem sombra de seriedade intelectual ou factual, os esforços de quem, apenas sendo notícia por motivos desportivos uma vez por semana, consegue, com a prestimável colaboração da imprensa, ser notícia todos os dias. De alguém que, não se tendo destacado antes em qualquer domínio que se saiba, só existe agora no espaço da zaragata permanente que conseguiu criar à sua volta.
Alguém que faz um comunicado a explicar que separou a direcção do FC Porto no camarote de Alvalade porque primeiro tinha que dar prioridade aos "convidados" (e, segundo a SAD do FC Porto, intervalando com alguns "convidados" de aspecto muito pouco recomendável); alguém que revela em público conversas privadas tidas com o presidente do Benfica ou com o presidente da Arbitragem; alguém que, tendo dito antes do Sporting-Porto que o seu clube levava um saldo de sete pontos tirados pelos árbitros e, depois de ter ganho três pontos com a arbitragem do jogo, dá uma conferência de imprensa para dizer que tinha passado a ter 10 pontos tirados, alguém que, face à evidente superioridade do Benfica esta época, vem dizer que o título já estava entregue à partida e tem o despudor de dizer que só não vai à frente porque o não deixam, esse alguém talvez faça sonhar muitos sportinguistas justamente fartos da derrota e que já nem querem saber como é que a coisa possa mudar, desde que mude. Mas, daí a levá-lo a sério ou às intenções de moralizar o que quer que seja, vai uma imensa distância. Quem viver, verá.
Falemos, então, de futebol, que é mais sério. E vamos por ordem descronológica.

2 - Apostei com um amigo na vitória do Barcelona em Madrid, pois que me parecia que as notícias sobre o "fim de ciclo" da equipa do Barcelona, o ocaso e os vómitos do Messi, eram ligeiramente exageradas.

...Infelizmente para os portistas, treinadores como Vítor Pereira e Paulo Fonseca confundiram essa posse de bola letal, não como um meio para chegar ao golo, mas como um fim, em si mesma.

3 - FC Porto - Belenenses: contra o último da classificação e mesmo desfalcados, esperava, enfim, um jogo tranquilo. Tanto mais que toda a segunda parte jogamos contra dez. Mas não, este não é o ano da nossa tranquilidade. E, além do mais, reproduzindo o discurso de Bruno de Carvalho, eu também acho que o segundo lugar já está entregue. Sem a arbitragem de Pedro Proença, teríamos saído de Alvalade com um ponto a mais que o Sporting. Era a nossa bala de prata e o estímulo para manter a equipa ainda a lutar no campeonato, ao mesmo tempo que se divide entre todas as outras frentes. Mas não, saímos antes a cinco pontos e, como eu penso que a arbitragem de Proença não foi um acidente mas uma consequência, acho que aqui já não há muito a fazer. E, com o calendário de jogos que temos pela frente, ao passo que o adversário tem um só calendário carregado de comunicados e conferências de imprensa, a luta é demasiado desigual. Ah, se o Paulo Fonseca ao menos tem invertido o triângulo em Outubro ou Novembro!

4 - Napoli - Porto: uma vez este ano, tivemos sorte num jogo europeu. Já o merecíamos, caramba!
Tivemos sorte e tivemos outras coisas. Primeiro que tudo, o Fabiano na baliza: por muito respeito que eu tenha pelo Helton, acho que, com ele na baliza, não teríamos passado em Nápoles. Isto agora, pode parecer desagradável, mas não é essa a minha intenção, apenas a minha opinião: já há meses atrás, tinha escrito aqui que estava na hora da rendição da guarda. Lamento que tenha sido por estes motivos, mas não posso negar que me sinto bem mais tranquilo com o Fabiano na baliza.
O segundo factor foi o Ricardo Quaresma - coisa que me deu particular gozo, pois que, quando, no tempo de Co Adriaanse, todos o criticavam, eu sempre o defendi. Lamentei publicamente a sua venda, a custo muito inferior ao que valia. E, ao contrário de alguns portistas bem intencionados e alguns comentadores mal intencionados, fiquei entusiasmado com o seu regresso. Só não percebo é porque dizem que ele se transformou num problema para Paulo Bento. Há algum problema entre optar pela embirração pessoal ou pelo interesse público?
E o terceiro factor foram as muito louvadas substituições feitas por Luís Castro. Também alinho no louvor e também, como já o disse, alinho nas primeiras e agradáveis impressões que ele tem deixado - no banco e em frente aos microfones. Além disso, reinverteu o malfadado triângulo, recuperou o meu Quintero, e parece estar a conseguir recuperar a auto-confiança em muitos jogadores que a tinham perdido sob a caótica direcção de Paulo Fonseca. Mas, quanto à substitições que ele fez no San Paolo - de facto, decisivas - é a velha história do copo meio cheio ou meio vazio. Luís Castro teve o mérito de ter substituido o Varela pelo Ghilas, passando a jogar onze contra onze e abrindo uma frente de ataque com dois flancos e não apenas com Quaresma, ou teve o demérito de esperar 70 minutos até tirar do jogo o Varela, depois de ter visto que ele perdeu todos, rigorosamente todos, os lances que disputou?
Enfim, eu sei que não se pode mudar tudo da noite para o dia. Luís Castro vai por pequenos passos, mas vai, acredito firmemente, no caminho certo. A inteligência nunca é mal-vinda.

5 - Já o Benfica tem tido este ano inúmeras jornadas de sorte, a nível europeu, nomeadamente na Liga dos Campeões, e que não soube aproveitar para seguir em frente. Mas, na Liga Europa, os deuses continual com ele. recebeu um Tottenham com nove baixas entre a equipa principal e, mesmo assim, não foi para prolongamento apenas porque Oblak fez uma defesa do outro mundo e porque o árbitro não estava para horas extra e fez vista grossa a um penalty a favor dos ingleses ao cair do pano. E, no dia seguinte, o sorteio deu-lhe a mais fácil de todas as equipas ainda em prova. Jorge Jesus vai poder gerir a seu bel-prazer. Mesmo se, no horizonte para este final de época, ainda tem a perspectiva impensável de entre quatro a seis jogos possíveis contra o FC Porto. Jorge Jesus vai poder gerir um plantel que é mais rico, em qualidade e quantidade, que o do FC Porto. Luís Castro vai ter uma cobrança terrível para poder ganhar uma ou duas das competições em que ambos estão directamente envolvidos. Nestes dois meses que se seguem, bom mesmo é ser treinador do Sporting: apenas uma competição face às quatro dos adversários directos, um segundo lugar para disputar e um jogo por semana. Quanto ao resto, Bruno de Carvalho encarrega-se de ganhar em todas as frentes.

Sem comentários: