terça-feira, 15 de julho de 2014

Conversa mole para espíritos fracos

15/07/2014 - Extracto da crónica de Miguel Sousa Tavares (Scolari)

...Conversa mole para fracos espíritos e patriotismo de pacotilha - que ele (Scolari) aproveitou, aqui e no Brasil, como uma excelente oportunidade para negócios privados de publicidade.

Mas que, no fundamental, o homem limita-se a escolher um grupo de discípulos obedientes a quem prega os seus sermões de psicologia barata, convence-os de que a sua técnica é genial (e que, em absoluto, dispensa o talento individual deles) e que, quando ganha, tudo se deve ao grande Felipão. Mas quando, na hora da verdade, tudo corre mal - quando consegue perder duas vezes com a mesma e indigente Grécia no Euro-2004 ou quando encaixa 7-1 da Alemanha neste Mundial- ele puxa das estatísticas que lhe convêm, esquecendo as outras, e declara, cheio de lábia, que tudo o que de mal lhe aconteceu nos últimos anos foram dez minutos contra a Alemanha.

Na qualidade de quem, antes mesmo de começar o Euro-2004, logo embirrou com o homem, desconfiou do treinador e o escreveu, de quem foi, aliás, pessoalmente ofendido por ele, de quem várias vezes teve de explicar no Brasil porque razão o achava um vendedor de banha da cobra, de quem teve a sorte de aqui publicar na manhã do jogo contra a Alemanha que o Brasil de Scolari não jogava nada e que nessa noiteiríamos ver o que valia contra uma equipa a sério, confesso que a prova dos nove me soube deliciosamente. Os 7-1 contra a Alemanha e os 3-0 contra a Holanda souberam-me que nem doce de amoras. Só tenho pena que o Brasil, o Brasil inteiro, tenha pago este preço pela incompetência, a arrogância e a pesporrência do Grande Felipão. Um treinador que consegue transformar o Thiago Silva num passador, o David Luiz num bebé chorão, o Hulk numa nulidade e o Oscar numa anedota, e que vive à espera que o Neymar lhe resolva o assunto é, obviamente, um incompetente. Mas o burro é ele? Não, o burro é a imprensa que sempre andou com ele nas palminhas, por medo e por reverência.

Três quartos dos seleccionadores do Mundial despediram-se após este. Uns porque consideraram a sua missão ou o seu ciclo cumpridos, outros porque falharam os objectivos. Entre estes últimos, Scolari (entretanto este demitiu-se) e Paulo Bento são dois que não veem motivos para se irem. Um, porque considera que só falhou um jogo em que as coisas correram mal, outro porque acha que só falhou dez minutos de um jogo. Não é a única parecença entre eles, mas é eloquente: as razões porque falharam são as mesmíssimas razões pelas quais só eles não percebem que falharam e que nenhum futuro diferente se fará com eles.

Sem comentários: